A lei está sendo alvo de abuso, escárnio e deboche no Distrito Federal. E sob o olhar complacente da Justiça.
Joaquim Roriz, candidato ao governo pela quinta vez, teve o registro de sua candidatura negado pelo Tribunal Regional Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa.
Um dos artigos da lei barra a candidatura de quem tiver renunciado ao mandato para escapar de qualquer tipo de punição.
Eleito senador em 2006, Roriz renunciou depois de ter sido flagrado discutindo a divisão de uma propina paga por Nenê Constantino, o fundador da empresa aérea GOL.
Se não tivesse renunciado, correria o risco de acabar cassado por seus pares.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal, por cinco votos contra cinco, decidiu nada decidir sobre a validade da Lei da Ficha Limpa para as eleições deste ano.
Acendeu a luz vermelha no comando da campanha de Roriz.
E se mais adiante o Supremo concluir que a lei valeu, sim? Ele poderia ser eleito, mas não ser diplomado.
Então Roriz renunciou à candidatutra e escalou a própria mulher para seu lugar.
Outra lei permite a troca de candidatos a governador e a senador em cima da hora.
O legislador entendeu que um candidato pode morrer, ficar gravemente doente ou desistir por qualquer outro motivo razoável.
Ficaram de fora das intenções do legislador favorecer o logro e premiar a esperteza.
O logro está sendo favorecido no Distrito Federal. E a esperteza premiada.
"Vote em Roriz", sugerem cartazes de campanha e o ex-candidato em comícios e na televisão. A mulher é citada como sua representante.
Roriz repete que estará sempre ao lado dela. E que se for convocado caso ela se eleja, ocupará cargo no governo.
A Justiça não teve mais tempo para tirar o nome, o número e a foto de Roriz da programação das urnas eletrönicas.
Quantos milhares de eleitores não votarão em Roriz pensando que ele ainda é candidato?
Quantos não votarão convencidos de que o governador de fato será ele?
A Justiça permanecerá inerte diante de tentativa de fraude tão escandalosa?
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