“A imagem de sucesso incorporada a quem é aprovado em concurso público gera expectativas de glamour que não existem no mundo real”
Se ilude quem pensa que basta conquistar a “tão sonhada vaga no serviço público” para ter pela frente o caminho mais fácil para o sucesso. Ser funcionário do governo tem suas vantagens, é inegável. Entretanto, obter essas vantagens não se limita a ser aprovado no concurso público, e muitos aspirantes se esquecem disso.
Os olhos brilham só em pensar nas mágicas palavras: estabilidade, bons salários, aposentadoria integral e tantas outras. O que se esquecem é de que ser servidor público vai além, e “chegar lá” carece de consciência do trajeto e do objetivo a ser alcançado.
Para um concurso de uma das carreiras de Estado, exige-se do candidato cerca de um a dois anos de estudos com 30 horas de dedicação semanal. Isso representa, por baixo, um investimento financeiro de R$ 600 a R$ 1.500 mensais. Ou seja, é muito tempo e dinheiro, algo que não pode ser tratado como uma aventura.
Quantos profissionais se encantam com as benesses e ignoram as desvantagens. Aliás, quantos se limitam a focar só na preparação, nos estudos, e deixam de lado o que virá depois. Outros sequer planejam o caminho e são “levados pelo vento”, esperando que a sorte se volte para seu desejo. A primeira pergunta que um concurseiro precisa fazer é: “Por que ser servidor público?”. Sem esta resposta qualquer caminho parecerá certo e, ao mesmo tempo, errado.
O passo seguinte é responder para si mesmo o que quer fazer dentro da administração pública, ou seja, que carreira e/ou área quer trabalhar. Conhecer sobre suas futuras funções dará uma noção mais precisa do pós-concurso. As recomendações são ler sobre a instituição ou entidade, sobre a carreira; conversar com pessoas que já trabalham no que pretende fazer e, se for possível, ir até lá e se informar pessoalmente. Todos os dados são essenciais para se ter certeza de que se trata de uma escolha acertada.
A imagem de sucesso incorporada a quem é aprovado em concurso público cega os candidatos menos preparados, gera expectativas de glamour que não existem no mundo real. Existe trabalho no setor público e atividades que exigem as mais diversas especialidades e competências.
Embarcar nesta empreitada iludido é, sem sobra de dúvidas, aceitar o risco de empenhar tempo e dinheiro em algo que, no mínimo, não será gratificante. Ai, até vale a brincadeira: de nada adianta ganhar bem e gastar tudo isso com terapia para cuidar da frustração. Acredite: é muito mais comum do que se imagina.
Letícia Nobre é a editora-chefe do SOS Concurseiro. É jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) desde 2005. Foi repórter e subeditora do jornal Diário da Manhã, em Goiânia, correspondente em Goiás do Portal Terra e, em Brasília, trabalhou como repórter de economia no Correio Braziliense por quase três anos. Neste período, a equipe da editoria foi ganhadora dos prêmios de jornalismo Esso, Embratel e CNT.
Fonte: Congresso em Foco