quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O (a) prefeito(a) que quero, o(a) vereador(a) que escolho


Em 2010, completei minha ‘maioridade’ como eleitor, ao ter votado pela 18ª vez – oito delas em mim mesmo… Exerço esse direito duramente recuperado e cumpro esse dever cidadão desde os tempos em que o voto era escrito em cédula de papel.

Aprendi que votar é teclar um desejo. Não um desejo pessoal, individual, menor, mas um desejo social, gregário, coletivo.  Por isso, preparo-me para o dia da eleição – dia sempre de emoção, pelo tanto que custou à minha geração essa conquista – com aplicado trabalho da razão. Aprendi a estabelecer critérios para digitar na urna eletrônica os meus candidato(a)s.

Combino a experiência de estudante, professor e eleitor.  Nada de amizade, parentesco ou ‘boniteza’: para definir meu voto, sempre faço perguntas e decido a escolha de acordo com as respostas que dou a elas – ou melhor, que os candidato(a)s dão. Para esta, municipal, já estou indagando o seguinte:

1 – qual a história de vida do(a) candidato(a) no que se refere à sua atuação social; quando e em que nível já esteve dedicado a alguma ação de interesse público?

2 – a honestidade em sua vida pregressa é inquestionável?

3 – quais são as principais linhas programáticas de seu partido, quais suas figuras públicas mais conhecidas e seus valores ético-políticos?

4 – como o(a) candidato(a) pretende contribuir para superar os graves problemas da desigualdade social, da irresponsabilidade ambiental, das várias violências, dos preconceitos?

5 – como considera os servidores públicos, sem os quais não administra, e que relação pretende ter com eles, subordinada ao dever maior de sempre a servir à população?

6 – como se posiciona em relação aos recorrentes escândalos nacionais de corrupção, e que papel seu partido tem no combate a esses crimes e aos políticos que os cometem?

7 – quem está financiando sua campanha, e com que objetivos, considerando que, em geral, empresas não fazem ‘doações’ e sim investimentos?

8 – como ele está desenvolvendo sua campanha: pelo convencimento através de ideias, projetos e causas, buscando o voto de opinião, ou na base da compra de votos, da promessa de emprego, vaga na escola, leito em hospital e outras formas do crime de captação de sufrágio?

9 – quais suas propostas concretas para as políticas públicas mais importantes na cidade, os recursos e as maneiras de implementá-las?

10 – como considera o povo de quem busca o apoio: como massa de manobra, tola, a ser dirigida, ou como cidadania ativa, cuja consciência, informação e participação permanente deve se estimular?

Faço as mesmas indagações na escolha de quem vai me representar – não substituir! – na Câmara de Vereadores. Acrescentando o questionamento sobre seu compromisso em fiscalizar o Executivo, e não ser ‘pau mandado’ dele. Mesmo se o governo for de seu partido ou coligação.

Assim a escolha fica mais fácil? Talvez mais difícil, pois pouquíssimos candidato(a)s e partidos responderão de forma positiva a essas questões. A política anda muito degenerada, cheia de propaganda enganosa. Mas na solidão da cabine, na frente da urna eletrônica, temos a chance e a obrigação de dar uma resposta a tudo isso.


Chico Alencar é formado na Juventude Estudantil Católica, participou ativamente do movimento comunitário do Rio de Janeiro nos anos 80. Professor de Prática do Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é autor de 25 livros. Foi vereador e deputado estadual pelo PT. Está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados (Psol-RJ). No pleito de 2010, foi o segundo deputado federal mais votado do estado, com 240.724 votos.

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