O deputado federal mais votado nas últimas eleições, Tiririca, que obteve 1.353.000 votos, foi submetido anteontem a um ditado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo para comprovar se é alfabetizado. De um ditado de 18 palavras, acertou 6, o que representa um terço. Para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é alfabetizado quem acerta 30%. Por esse critério, Tiririca passou e poderá ser diplomado deputado.
Para tomar posse, enfrentará ainda dois obstáculos. O primeiro é a suposta omissão de bens na sua declaração quando se candidatou. Aí cabe uma pergunta: - é só o Tiririca que faz isso? Nenhum outro deputado e senador eleitos procedem de maneira semelhante, transferindo os seus bens para a esposa, filhos, irmãos, cunhados, primos, tios? O segundo obstáculo é pela acusação de ter mentido quando afirmou que era a sua letra que constava do pedido de registro eleitoral.
Todos os candidatos a vereador, prefeito, deputado, senador, governador e presidente deveriam ser obrigados a escrever uma redação e a responder a algumas questões de interpretação de texto. A lei exige que quem exerce cargo público seja alfabetizado. Acertar a grafia de algumas palavras em um ditado não comprova isso.
Uma correção que precisa ocorrer já na próxima eleição é impedir que o candidato apareça no horário eleitoral vestido de palhaço ou outro personagem. Ao assumir um papel, já conhecido do grande público, o candidato sai com vantagem sobre os outros, que aparecem padronizados, de terno e gravata.
Se Tiririca aparecesse de terno e utilizando o seu nome Francisco Everardo Oliveira Silva, teria uma votação medíocre e não seria eleito. Já vi na televisão eleitores do Tiririca decepcionados porque ele não aparecerá no plenário como Tiririca, mas como Everardo. Isso porque quem votou nele queria protestar ou simplesmente brincar e torcia para que essa brincadeira continuasse no Congresso.
Eu me pergunto: quantos analfabetos funcionais há no Congresso e nas inúmeras câmaras municipais do país? Pedir uma redação e uma interpretação de texto básica é contribuir pelo menos um pouco para melhorar o nível das discussões no Poder Legislativo, que costuma ser bem abaixo do aceitável.
A educação deve ser para todos, inclusive para os políticos. Não são eles que nos representam?
Bom domingo.
Lendo com o máximo prazer livro e jornal.
(O autor é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação. jaimeleitao@linkway.com.br)
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